Temos os cães, então do nosso lado para nos ajudar a clarear essa burrice, utilizando o seu faro inato, característica indispensável na sua esperteza.
O mau génio, e a crueldade é sentida como é uma tempestade: o animal vai se sentir ameaçado, o pêlo vai eriçar, e os uivos serão ensurdecedores. Aí está, ele tudo faz para ser tomado em conta, e para que a sua voz seja ouvida bem longe, pelo mais distante semelhante.
Ele (o cão) nunca saberá que quem se aproxima nasceu na Ásia, por isso terá uma tez mais amarelada, uma cultura de milhares de anos com alguns temíveis pormenores. Assim como também não sabe que quem vem do lado dele é um Europeu, com tez pálida, com um suposto nariz empinado por toda a sua cultura e historial de vitórias e conquistas heróicas do Mundo. Assim como também não saberá que muito provavelmente o homem que se encontra prostrado no chão terá sido em tempos um dos mais sofridos homens, pela sua cor mais escura própria da sua África quente. Assim como não saberá dizer que o homem sentado na poltrona com um sorriso, de cabelos longos e tez avermelhada em tempos vivia no meio duma savana húmida, fugido de homens, como ele o é. E nesse conjunto o cão, muito menos poderá dizer que esses homens são apaixonados entre si na sua forma mais pura, quais amantes. Saberá apenas que são quatro homens, quatro humanos. E apenas pelo faro (que poderemos chamar como o tal conhecimento de causa) saberá se serão de bom ou mau génio.
O conhecimento de causa parte não de uma massa influenciada por estúpidas crenças, nem por tradições erróneas e lendas descabidas. Mas parte sim do individuo em si, que responde pelos seus próprios actos e por aquilo que é, apenas um cidadão do mundo; não pertencente a nenhuma área restrita que reflectirá uma personalidade e uma qualidade não existente. O que interessa é que assim como os cães, saibamos o que a pessoa faz para com a humanidade, para com o seu semelhante e próximo irmão... seja o mais importante na nossa avaliação.
A premissa será a semelhança, e não a suposta discrepância dum rafeiro e dum de raça, que em nada são credíveis como características intrínsecas dum cão.
O pêlo mais seboso, duma chuva que vem choca do céu (pormenor não facultativo), um lombo mais curvado pelas constantes chibatadas dadas pelo seu amigo humano. Estes Rafeiros, serão os mais fiéis ao seu faro, ao seu conhecimento de causa. Com a constante procura, e a imperfeição inata e saudável em si. Que os afasta apenas pelo seu duvidoso aspecto aos olhos dos outros cães. E aí o homem teme. O homem teme tudo o que luta e sabe o que é ser o que se é. Teme a clareza das coisas. Teme a verdade desde sempre. Serão sempre os abafados e os desprotegidos, os ricos de espírito. Aguardando a mais bela recompensa, com um dia ao sol. Podíamos humanos ser assim fiéis a nós? Ser fiéis ao que acreditamos? Mesmo que alimentados de ossos podres e da mesma água choca que nos suja o pêlo, teremos o mesmo brilho nos olhos por sermos assim libertos duma verdade perpétua... Saberemos sempre identificá-la.
Por outro lado, o sedoso toque daquele pêlo, e a esbelta estatura e postura, dum de Raça, torná-lo-a o poderoso que mesmo que não busque, achará. O sol brilha-lhe no pêlo todos os dias vindo do céu (pormenor não facultativo). Criando assim a sua vaidade qual carapaça, que cega o homem, fazendo com que passe a mão no lombo do cão vezes sem conta. A carne dada de alimento será o que lhe apodrece o interior, sendo dos animais mais domáveis e estúpidos. Formando a cadeia destrutiva duma massa que cresce cada dia que passa. Marcando terreno, mijando em tapetes alheios dos que se deixam levar, fracos de espírito tornando assim tudo acessível à destruição global. São movidos pelo ego e pela burrice.
[Extenso mas findo desta primeira parte... espero que gostem.]
2 comentários:
Foi dos melhores textos que já li.
escreves TÃO bem :')
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